dique

O encontro foi ocasional, então não houve tempo para a ansiedade e havia tanto para contar que o muito que gostariam de compartilhar provocava desconforto. Todo o tempo próximos, querendo contato e em qualquer esbarrão um arremedo de orgasmo tamanha a vontade de unirem-se, apesar de negarem.
 
No pequeno universo qualquer interferência provocava o grande mau humor que os possuía até o momento em que novamente sentiam a presença um do outro, e nada mais havia – ao menos era isso que desejavam. Todo o tempo procuravam o toque, as imagens, odores, sabores e sensações que acreditavam esquecidas e, a cada vez que a familiaridade era reencontrada, outra sensação era resgatada, então tinha início uma batalha inconsciente para usufruir e congelá-las como quando, muito próximo do rosto dela, teve a chance de mais uma vez ver seus olhos e fronte surgirem sob a longa franja. "Seus olhos sorriem como outrora”, pensou.
 
Deitados, inquietos e juntos à altura do chão. Depois sentados e com uma pequena mesa a separá-los. Não importava, o objeto fez-se intangível tamanho o desejo de proximidade. Mudando absurdamente de lugar discutiam papéis, atividades e esbarravam nas coincidências das suas histórias naquele período impensavelmente longo em que estiveram afastados. Ele em pé, com um dos pés sobre uma cadeira, e ela sentada, acariciando a perna dele com um dos joelhos, lutaram, mas não conseguiram evitar. Precisavam do contato e, mesmo sem beijos, derramariam a qualquer instante o "eu te amo" que nunca foi dito.