A alegria na voz deixou-o de pernas e miolo moles. Muitas vezes brincou com a interlocutora dizendo que não gostava de chamadas buscando as lembranças de garoto e suas breves conversas ao telefone, tão curtas que as pessoas acreditavam tratar de algum código secreto, tudo isso para corroborar a ideia que servia apenas para dissimular a sua falta de jeito ao ouvi-la, porém o rezingar ao fundo trouxe-o de volta do pequeno êxtase que a voz sempre provocava. Ela calou e ele esperou. Então um “não faça isso”, em tom triste da voz doce, ouviu direcionado a outro ator e novo silêncio se seguiu, tão longo que o obrigou a se manifestar. “Fulana?”. Ela permaneceu em silêncio por mais alguns segundos e, em um esforço nítido para retomar o tom usual, encerrou a ligação com o “beijo”.