O cruzar das pernas sobre o suporte do conversor era sinal de que os olhos seriam irradiados, a mente inundada e, por vezes, sentimentos novos despertados, principalmente ao percorrer formas não comuns às pequenas que timidamente observava banhando suas Barbie. Bambalalão? Gigi... Gigi era diferente e “Pirulito Que Bate-Bate” sua trilha romântica.
Era 1982 e não compreendia a razão de ser do Naranjito. O sol que cegava também confortava incidindo sobre a jardineira marinho quando ela deitou à beira da piscininha do Parque Infantil e lançou aquele “vamos brincar de Bela Adormecida?”. Claro que seu estômago se contorceu, a brincadeira envolvia movimentos reservados aos adultos e, caso pegos, o castigo era certo, ainda assim quis muito tocar os lábios. Tristeza e alívio se instalaram quando a professora surgiu flagrando o quase ilícito.
Pés descalços e ioiôs faziam parte dos domingos, entretanto naquele a parenta pouco mais velha tinha algo diferente no olhar e um “grude” surgiu. Acabaram se abrigando no pequeno galpão de ferramentas e por entre os dentinhos separados veio o que tramava a massa sob os cabelos desgrenhados: “Me beija! Vamos fazer de conta de papai e mamãe!”. Pegos, rapidamente cruzaram as mãos nas costas tentando dissimular. Passaram tempo demais longe dos olhares vigilantes e a bronca foi inevitável. “Isso não é brincadeira de criança”. Sem surra, ao menos por ora.